quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Quem banca o que acredita, bota banca - acredito

Como sei que já estou distante dessas queridas linhas há um tempinho, vou compensar minha ausência contando pra vocês uma história. E melhor: uma história ilustrada com uma foto minha, ae!!


Era uma vez um poste. Um belo dia, dois homens chegaram e colocaram do seu lado um banco. Uma senhorita banco de madeira, na verdade. A banco, nunca antes havia visto um poste. Só conhecia serras, maçaricos, tábuas, serralheiros e marceneiros. O poste, só entendia de pombos, cachorros, coleiras, esquilos, pipoca, folhas, árvores e caminhantes. Entendia também um pouco de elétrica, física e luz.

O poste tinha uma vida ordinária. Começando pelo fato de nunca poder sair do lugar. Estava condicionado a ver, pelo resto de sua vida, a mesma paisagem. Embora não se queixasse também. Poderia ter sido colocado no meio de uma grande avenida, cheia de fumaça e buzina e, definitivamente, sua praia não era aquela. Gostava de natureza.

A banco saiu animada dos fundos da pequena casa onde fora feita. Não agüentava mais o barulho dos serrotes e a bateção dos martelos. Queria paz, sossego para si. Mas ainda não sabia o motivo de sua própria existência.. E não precisou de muito tempo também para descobrir. Assim que ficou pronta, três brutamontes vieram de uma vez só e já se acomodaram em seu colo. Agora ela sabia para que viera ao mundo: assentar transeuntes.

Chegou o dia da mudança: colocaram-na com jeito dentro do caminhão e a levaram até um parque. Mal as portas do baú se abriram, e ela, ansiosamente, já olhava afoita para o visual verde que a aguardava. Estava feliz por não ter ido parar num cemitério ou mesmo numa agência bancária (pensava que ia ser banco demais para sua cabeça!).

Foi então que colocaram a banco ao lado do poste. Para alegria dos dois. Foi como se seus santos tivessem se cruzado de primeira! - como falam. Ficavam torcendo para as pessoas pararem de passar logo por ali para que pudessem voltar a conversar sobre as estrelas, a chuva, o céu ensolarado, as folhas que caem das árvores, as flores que brotam em segredo, as formigas que só trabalham, as abelhas espevitadas, os cachorros mijões, as crianças eufóricas e as gordinhas com calça de ginástica. Tudo que acontecia à volta sempre virava motivo de riso.

Em 1 semana, os dois já estavam combinando de ir iluminar ciclovias no pacífico (só conheciam o mar pelo que falavam os pedestres), de assentar as pessoas na brisa do fim de tarde na praia de Ipanema, de ver corridas de esqui no inverno, de assistir um rali no deserto, de ver as curvas das Cordilheiras e de apreciar a cultura em praças da Europa. Não havia limites para os sonhos - como deve ser.

Já não incomodava em nada ao poste não poder sair do lugar. A banco já nem ligava mais em ter que receber uns 200kgs a cada meia hora. Eles encaravam tudo com muito bom humor, à espera do próximo instante sem corredores ou carrinhos de bebê à volta, para poderem voltar a bater papo e trocar confidências. E quando não tinham trégua, se entreolhar ou fazer uma discreta careta já era o bastante para quebrar a rotina.

À noite, por vezes, o poste ficava mais esquentadinho, mas nem assim deixavam de se divertir com as coisas da vida, com tudo que tinham presenciado naquele dia. Até que passaram por ali alguns homens com roupa da prefeitura. Não tinham a cara tão feliz quanto as pessoas da manhã. Eles tinham os braços fortes e lembravam inclusive as primeiras pessoas com quem a banquinho tivera contato na pequena fábrica de onde veio.

Dessa vez, a banco e o poste não precisaram se olhar ou falar qualquer coisa para saber o que estava por vir. Aqueles homens estavam tramando levá-la para outro lugar! Iriam tirá-la de perto do seu único e melhor amigo, com quem passou os últimos 17 anos. Tinham ordem de movê-la (e somente ela) do lugar onde esperava ficar por toda a vida, onde já era querida, conhecida e prestigiada. Ali, sentia-se útil e feliz e, vez ou outra, até em fotos aparecia. Não tinha o que reclamar.

O poste, tadinho.. já não conseguia servir nem de apoio aos maratonistas que paravam para tomar ar, já se irritava com todo e qualquer cachorrinho que chegava perto, não se empolgava mais com os casais que paravam por ali para namorar e nem sequer se apagava no meio da madrugada para observar melhor as estrelas com a companheira. Tudo estava muito sem graça.

Foi então que, numa atitude extremada e corajosa, a banco resolveu se declarar e abrir mão da sua liberdade em nome do seu grande amor.

- Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira! - exclamou a, agora, Senhora Banco.



A cena romântica, flagrada em 01/09/2007 no Parque das Cataratas de Montmorency - QC, Canadá

-
Mp3 da vez: Titãs - Lugar Nenhum

2 comentários:

  1. Que historia loca!!! Seria mais verdadeira se nao tivesse que trocar o genero de o banco, para a banco, mas o conteudo eh muito valioso. É uma linda historia de vida que acontece isso muitas vezes com as pessoas.....
    Parabens!
    Obs, falta um "R" na primeira frase.

    ResponderExcluir
  2. oiiii

    Mto legal, adorei.. Parabéns
    Só passei msmo pra dxar um oi, e deixar esse recadinho...tah

    bjo

    ResponderExcluir

Vai ficar por baixo? Cutucaê!