sexta-feira, fevereiro 29, 2008

"Aquele abraço"

Quem sabe de mim sou eu, já dizia Gil em 69. Ahhh 69, meia-nove, nove e meia. Hora de começar a pensar em sair. Hora de ver que tem muita coisa pra ver. Hora de dormir? Não, não mesmo. São 4h em ponto agora e eu tô aqui, escrevendo, depois de já ter saído e visto.

Quem manda no meu sono sou eu. Mentira. Quando ele quiser, ele me apaga e eu nada faço. Aliás, apago. Mas continuo pensando. Fechei os olhos para o mundo mas não para mim. Continuo a ver o que falam. A ouvir o que pensam. E a falar o que vejo e escuto.

Quem sabe o que minha barriga vai comer sou eu mesmo. Desce um copo de coca e um biscoito de chocolate. E daí que eu acabei de tomar um "toddy"? Já foi, agora eu quero castanhas e torradas com manteiga. Eu já bebi e vou dormir e você que dirija corretamente. Aliás, digira tudo para o seu devido lugar. Se vira.

Quem sabe pra onde eu vou além de mim? Alguém aí sabe? Pode contar, eu não ligo. Porque já liguei várias vezes e hoje, cadê? Não estão aqui. Então não ligo mesmo. Quer saber? Me liga. Eu vou gostar. Eu posso não saber pra onde vou mas sei o que quero. Quando não sei o que quero, sei o que não quero, com certeza.

Quem se importa se eu não me importar? Acima da cota, importação é ilegal. O legal é importar-se. Se importe com algo que realmente importa. Não interessa se todos pensam que essa não seja a melhor maneira, essa maneira é sua. E se é sua, então já é maneiro. Tome nota, é importante.

Quem vai achar pra mim se eu mesmo não procurar? Estou sempre em busca, porque quando se encontra, logo vem outra coisa a ser alcançada. Ferramentas de busca. Busco os porquês das coisas. Pra onde irão as coisas senão pra lá? Se estão em movimento, aqui não vão ficar. Chega pra lá também. Tá apertado aqui já.

Quem pensa aqui sou eu. Pode deixar, eu me garanto. Aquelas coisas das quais falei, vem com garantia limitada, ou você acha que não? Tudo tem prazo de validade. Cada coisa vale um tanto de coisa. Uma coisa mais outra, dá numa terceira coisa. Melhor? Não necessariamente, diferente. O minimalismo diz que o menos diz mais. Vamos fazer ou dizer algo diferente?

Quem difere o bom do ruim, nesse caso, sou eu. Que diferença faz? Toda. Tudo conta. Faça as contas. Quem conta um conto sempre aumenta um ponto, que com mais um ponto, dá uma reta. A mesma que separa eu e você. Se ligar, fica "vocêu". Não liga, isso é o que EU penso. Quem tem que ligar não é você, sou eu. Sem mas. Sem mais nem menos.

Quem sente o que se passa aqui dentro sou eu. Posso não saber explicar claramente, mas eu sinto. E quem vai saber algum dia explicar precisamente o que sente? Estamos falando aqui, caros, de sentimentos. Isso não se explica, isso se sente. Está claro? E se não estiver falando de sentimentos, e sim de sensações, esqueça: elas não foram feitas para serem transcritas.

Quem tem o coração disparado, a perna bambeada e a cabeça martelada é o próprio. Escrevi tudo isso só pra chegar até aqui, não acredito. Se você chegou até aqui também, parabéns. Mas o coração continua sendo meu, a perna e a cabeça (ah, a cabeça!), idens. Essa galera aí sabe bem do que eu tô falando nessas linhas escritas - espero.

Quem sabe do que eu gosto ou com o que eu pareço sou eu. Eu dito as regras quando o assunto sou eu próprio. Não vem me dizer o que eu tenho que fazer. Eu sei. Não preciso de seita, doutrina, tutor, conselheiro ou pena. Preciso de amigos, amor, família, saúde e praia. Não vou estragar o clima falando de dinheiro nesse momento. Cala-te. E você?

Quem nasce na maré não acostuma com a serra. Quem respira maresia sufoca com neblina. Quem corre por gosto, não cansa. Quem deita ao sol, chuva só pra refrescar. Quem me dita, será julgado com a mesma imponência. Quem consente, cala. Quem olha, fulmina. Quem se surpreende, renasce. Quem rouba, em qualquer sentido, peca.

Quem tem a ver com eu querer um pouco de tudo? Se eu quero sonhar acordado, e dormir menos pra viver mais? Cada cabeça uma sentença e cada sentença muda o destino de uma cabeça. Cada um, acredite, é parte do outro. Pois sem o outro, somos só partes - incompletas. Não esconjure seus defeitos. Pratique suas qualidades. Não faça guerra, faça amor e catarse.

Quem vai dizer que é proibido assobiar e chupar cana? Escrever poesias e fazer esportes extremos? Gostar de desenho e documentário? Ouvir metal e Jorge Ben? Ser sério e insensato? Ser correto e contraditório? Amar e trair? Gostar e desquitar? Pacífico e caótico? Cabeludo e careca? Preto e branco? Pequeno e grande? Prestativo e egoísta? Ciumento e liberal? Porra-louca e justiceiro? Pacificador e arruaceiro? Ser muitos e ainda ser um? Pai, filho e espírito santo?

Quem sabe de mim sou eu.

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Mp3 da vez: Gilberto Gil - Aquele Abraço

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Quem banca o que acredita, bota banca - acredito

Como sei que já estou distante dessas queridas linhas há um tempinho, vou compensar minha ausência contando pra vocês uma história. E melhor: uma história ilustrada com uma foto minha, ae!!


Era uma vez um poste. Um belo dia, dois homens chegaram e colocaram do seu lado um banco. Uma senhorita banco de madeira, na verdade. A banco, nunca antes havia visto um poste. Só conhecia serras, maçaricos, tábuas, serralheiros e marceneiros. O poste, só entendia de pombos, cachorros, coleiras, esquilos, pipoca, folhas, árvores e caminhantes. Entendia também um pouco de elétrica, física e luz.

O poste tinha uma vida ordinária. Começando pelo fato de nunca poder sair do lugar. Estava condicionado a ver, pelo resto de sua vida, a mesma paisagem. Embora não se queixasse também. Poderia ter sido colocado no meio de uma grande avenida, cheia de fumaça e buzina e, definitivamente, sua praia não era aquela. Gostava de natureza.

A banco saiu animada dos fundos da pequena casa onde fora feita. Não agüentava mais o barulho dos serrotes e a bateção dos martelos. Queria paz, sossego para si. Mas ainda não sabia o motivo de sua própria existência.. E não precisou de muito tempo também para descobrir. Assim que ficou pronta, três brutamontes vieram de uma vez só e já se acomodaram em seu colo. Agora ela sabia para que viera ao mundo: assentar transeuntes.

Chegou o dia da mudança: colocaram-na com jeito dentro do caminhão e a levaram até um parque. Mal as portas do baú se abriram, e ela, ansiosamente, já olhava afoita para o visual verde que a aguardava. Estava feliz por não ter ido parar num cemitério ou mesmo numa agência bancária (pensava que ia ser banco demais para sua cabeça!).

Foi então que colocaram a banco ao lado do poste. Para alegria dos dois. Foi como se seus santos tivessem se cruzado de primeira! - como falam. Ficavam torcendo para as pessoas pararem de passar logo por ali para que pudessem voltar a conversar sobre as estrelas, a chuva, o céu ensolarado, as folhas que caem das árvores, as flores que brotam em segredo, as formigas que só trabalham, as abelhas espevitadas, os cachorros mijões, as crianças eufóricas e as gordinhas com calça de ginástica. Tudo que acontecia à volta sempre virava motivo de riso.

Em 1 semana, os dois já estavam combinando de ir iluminar ciclovias no pacífico (só conheciam o mar pelo que falavam os pedestres), de assentar as pessoas na brisa do fim de tarde na praia de Ipanema, de ver corridas de esqui no inverno, de assistir um rali no deserto, de ver as curvas das Cordilheiras e de apreciar a cultura em praças da Europa. Não havia limites para os sonhos - como deve ser.

Já não incomodava em nada ao poste não poder sair do lugar. A banco já nem ligava mais em ter que receber uns 200kgs a cada meia hora. Eles encaravam tudo com muito bom humor, à espera do próximo instante sem corredores ou carrinhos de bebê à volta, para poderem voltar a bater papo e trocar confidências. E quando não tinham trégua, se entreolhar ou fazer uma discreta careta já era o bastante para quebrar a rotina.

À noite, por vezes, o poste ficava mais esquentadinho, mas nem assim deixavam de se divertir com as coisas da vida, com tudo que tinham presenciado naquele dia. Até que passaram por ali alguns homens com roupa da prefeitura. Não tinham a cara tão feliz quanto as pessoas da manhã. Eles tinham os braços fortes e lembravam inclusive as primeiras pessoas com quem a banquinho tivera contato na pequena fábrica de onde veio.

Dessa vez, a banco e o poste não precisaram se olhar ou falar qualquer coisa para saber o que estava por vir. Aqueles homens estavam tramando levá-la para outro lugar! Iriam tirá-la de perto do seu único e melhor amigo, com quem passou os últimos 17 anos. Tinham ordem de movê-la (e somente ela) do lugar onde esperava ficar por toda a vida, onde já era querida, conhecida e prestigiada. Ali, sentia-se útil e feliz e, vez ou outra, até em fotos aparecia. Não tinha o que reclamar.

O poste, tadinho.. já não conseguia servir nem de apoio aos maratonistas que paravam para tomar ar, já se irritava com todo e qualquer cachorrinho que chegava perto, não se empolgava mais com os casais que paravam por ali para namorar e nem sequer se apagava no meio da madrugada para observar melhor as estrelas com a companheira. Tudo estava muito sem graça.

Foi então que, numa atitude extremada e corajosa, a banco resolveu se declarar e abrir mão da sua liberdade em nome do seu grande amor.

- Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira! - exclamou a, agora, Senhora Banco.



A cena romântica, flagrada em 01/09/2007 no Parque das Cataratas de Montmorency - QC, Canadá

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Mp3 da vez: Titãs - Lugar Nenhum

sábado, fevereiro 09, 2008

Todo carnaval tem seu fim

Hoje fiquei triste por fazer triste uma pessoa feliz
Uma pessoa que radia felicidade
e que para minha infelicidade
Magoou-se por culpa do meu egoísmo.

Egoísmo não calculado, mas sabido
Uma jogada arriscada
que acabaria em tristeza
E incompreensão do narcisismo.

Fui julgado por uma traição antecipada
que na verdade nunca existiu
Acusado de uma ilusão malcriada
delatado por puro preciosismo.

Já me redimi pela mágoa provocada
Pela real falta de cavalheirismo
Às vezes as coisas simplesmente acontecem
E falta controle sobre nosso imediatismo.


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Mp3 da vez: Sabonetes - Se Não Der Não Deu